Burnout do Empreendedor: quando a competitividade se torna inimiga


Estou aprendendo um pouco sobre a psicologia adleriana. Ela é algo novo para mim, mas diante do pouco que aprendi tive alguns insights sobre como a competitividade pode levar ao estresse. No papel de empreendedora de duas empresas, a Plathanus Software & Design e a Beewell, eu já me vi encurralada por sentimentos de inferioridade e com altos níveis de estresse.

A psicologia adleriana foi desenvolvida por Alfred Adler, um psicólogo austríaco conhecido por sua abordagem centrada nas relações sociais e na motivação humana. Ele acreditava que todos nós nascemos com sentimentos de inferioridade, que servem como motor para nosso crescimento e superação. No entanto, quando esses sentimentos são exacerbados pela competitividade e pelas comparações constantes, podem se transformar em fonte de estresse e esgotamento.

No ecossistema das startups e do empreendedorismo, o burnout ainda é um tema subestimado. A narrativa dominante celebra a resiliência, a produtividade incessante e o “hustle” como virtudes indispensáveis ao sucesso. Mas e quando o preço dessa corrida é a própria saúde mental do empreendedor?

Mais especificamente, como lidar com o burnout quando ele é alimentado por uma força tão comum e silenciosa: a competitividade exacerbada?

Neste artigo, vamos explorar como a competição – especialmente no mundo das startups – está profundamente conectada às ideias de Alfred Adler, que identificou o sentimento de inferioridade como uma das principais motivações humanas. Vamos também discutir como isso contribui para o esgotamento emocional e refletir sobre soluções práticas para quebrar esse ciclo.

A Competitividade e o Burnout: Uma Ligação Perigosa

Empreender é, em essência, um ato de coragem. Mas também é um caminho permeado por pressões intensas: metas agressivas, comparações com concorrentes, busca por validação do mercado e, claro, a cobrança interna de ser “o melhor”.

A psicologia adleriana oferece uma lente única para entender esse fenômeno. Para Adler, todos nós nascemos com sentimentos de inferioridade que servem como combustível para nosso desenvolvimento. No entanto, quando essas comparações são constantes e exageradas, podem gerar um senso crônico de insuficiência. Isso é amplificado em ambientes de alta competição, como o empreendedorismo, onde o sucesso de outro frequentemente é visto como uma medida direta do nosso fracasso.

O Ciclo da Comparação e do Esgotamento

Empreendedores enfrentam uma pressão constante para se destacar. Pitch decks precisam impressionar investidores, a equipe precisa ser motivada, e os resultados precisam superar as expectativas do mercado. Em meio a tudo isso, é quase impossível não se comparar com os concorrentes.

Essa competição constante pode desencadear o que Adler chamou de “complexo de inferioridade” – um estado em que nos sentimos perpetuamente inadequados. Para compensar, muitos empreendedores trabalham mais horas, assumem responsabilidades excessivas e negligenciam suas próprias necessidades. Eventualmente, isso resulta em burnout, que pode se manifestar como: exaustão emocional; perda de conexão com o propósito; autocrítica exacerbada e redução na capacidade de tomar decisões.

Como Quebrar o Ciclo

Sair desse ciclo não é fácil, mas é possível. É importante manter-se consciente e identificar quando esse sentimento está atingindo você em cheio. Para aliviar os sintomas você pode:

  • Reenquadre a competitividade:
    Substitua a ideia de competir com outros pela de competir consigo mesmo. O que importa é o progresso individual e o impacto gerado pela sua empresa, não a posição no mercado.
  • Reconheça sua jornada:
    Lembre-se de que cada fundador tem desafios únicos. Comparar-se apenas pelos resultados superficiais é uma armadilha. Lembre-se, somo todos iguais na nossa essência como ser humano, mas somos diferentes porque evoluímos em contextos distintos, logo, o momento do outro, certamente não é o mesmo momento que o seu.
  • Pratique a autocompaixão:
    O “chicote interno” – como muitos empreendedores o descrevem – precisa ser substituído por uma voz interna de apoio. Reconheça e celebre suas conquistas, mesmo as pequenas.
  • Redefina o sucesso:
    Para Adler, o verdadeiro progresso humano vem da contribuição à sociedade. Pergunte-se: como minha startup está ajudando pessoas? Esse é um lembrete poderoso do valor do seu trabalho.
  • Busque apoio:
    Terapia, grupos de mentoria e redes de apoio são cruciais. Muitas vezes, compartilhar desafios com outros fundadores alivia a pressão interna.

Empreender é um ato solitário, mas não precisa ser. Quanto mais abrirmos espaço para discutir o burnout de empreendedores, mais estaremos ajudando a construir um ecossistema sustentável, onde a saúde mental tem a mesma prioridade que a inovação.

Lembre-se: você não precisa ser perfeito, apenas persistente – com humanidade.

Ana Paula Probst – Founder e CEO Beewell

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